domingo, 5 de fevereiro de 2012

FERIADOS, para quê?

Deprime-me ler e ouvir o que se diz nos media e nas redes sociais sobre os feriados e o Carnaval.
Que os sindicalistas do costume defendam salário sem trabalho já não surpreende. Mas de pessoas diferenciadas, como por exemplo professores universitários, a sociedade tem o direito de esperar um pensamento lógico e desapaixonado, que a oriente.
Tomemos os factos: vão ser cancelados alguns feriados nacionais em dias de semana e o Governo não vai dar tolerância de ponto no Estado no Carnaval. Quer dizer, não há dispensa formal do trabalho nesses dias.
Ninguém passou a ficar impedido de comemorar os eventos históricos: as comemorações não foram proibidas, nem a História foi rescrita por ninguém.
A partir da entrada em vigor, quem quiser dedicar aqueles dias às comemorações ou o faz fora do horário de trabalho, ou mete férias. É simples, e justo.

Eu duvido que encontre alguém que aposte comigo que haverá muita gente a meter férias para comemorar os feriados de que tanto se fala. Se pouca gente meter férias, sai derrotada a tese de que são factores de identidade cultural, porque se fossem estavam interiorizados por toda a gente, e as pessoas valorizariam o evento ao ponto de lhe dedicarem um dia de férias, como fazem noutros domínios. Se não estão interiorizados, é justo que não sejam feriados nacionais.

Uma abordagem inteligente teria sido propor ao Governo que os feriados fossem apenas suspensos pelo período de emergência nacional; essa proposta mostrava sensibilidade para a situação de bancarrota do país – por isso, não é de prever que viesse das esquerdas. Mas suspeito que não fizeram essa proposta também porque confiam que quando os socialistas, pela mão de António Costa, se prepararem para voltar ao poder, não deixarão de apelar ao voto oferecendo os feriados fixos e tolerâncias de ponto agora eliminados. E voltarão a prometer o mesmo “leite e mel” despesista que nos trouxe à bancarrota.

2 comentários:

  1. Já ouvi o primeiro ministro associar o corte nos vencimentos ao aumento da produtividade.
    É preciso aumentar o horário de trabalho, para aumentar a produtividade.
    Também já associou a redução dos feriados ao aumento da produtividade.
    O país não compreenderia, que numa altura em que se reduzem os feriados, se conceda tolerância de ponto no Carnaval.
    Estou à espera que o governo, na sua incansável perseguição da produtividade, venha um dia a descobrir que a integração dos desempregados no mercado de trabalho, poderia ultrapassar em muito, aquilo que o próprio governo pretende recuperar em produtividade, à custa daqueles que já se encontram integrados no mercado de trabalho.
    Com a vantagem, de retirar a esses mesmos desempregados, o tempo que eles preenchem com a economia paralela.

    ResponderEliminar
  2. O meu caro amigo José Manuel Silva Carreira fez o seguinte comentário, que me pediu para eu colocar, porque ele não o conseguiu (perderam-se os itálicos nos termos em latim, porque não sei colocar aqui o itálico). Aqui vai:

    "O feriado e festa dos nossos dias têm a sua origem no latim feria e (dies) festus (dia festivo) que eram assinalados no calendário com uma pedrinha branca. Os dois termos têm a ver com a interrupção das actividades quotidianas e profanas, para entregar-se às festividades em honra do deus.
    Contrapunham-se aos dies infestus, assinalados com uma pedrinha preta, dias de trabalho, iguais, marcados pelas necessidades prementes e constantes da existência
    O tempo estruturava-se à volta das festas religiosas, que ritmavam o calendário, com a distinção do tempo sagrado e do tempo profano, dando sentido à vida e revigorando para o trabalho.
    Como escreveu Mircea Eliade: A festa faz mergulhar no tempo sagrado, reactualizando o tempo originário e fundante e, assim, regenerando e dando sentido ao tempo quotidiano.
    Também Adriano Moreira fala da “inutilidade do útil”, que é a sociedade do trabalho e consumista, e a “utilidade do inútil”, que são as artes e os valores, o exercício da liberdade de se ser humano.
    A natureza humana não muda e assim também a importância dos feriados não desapareceu.
    Feriado cívico apela também à celebração colectiva, é tempo de comunhão com o corpo social, momento em que a sociedade organizada politicamente reconhece e reafirma a consciência de um destino comum a realizar-se na história. Não é uma questão de cada um comemorar o que quer e, quando quer. É o 4th July, é o 14 Juillet, etc.
    Para a celebração privada ficam as festas de família, de amigos, casamentos, baptizados, etc., que não interrompem o tempo de trabalho.
    É condição existencial de uma sociedade politicamente organizada que a liturgia dos seus feriados legitimadores se mantenha e seja respeitada como dia em que não se trabalha. Questão diferente é definir quais são esses dias que merecem tal reconhecimento, quantos e porquê e, mesmo, variarem em número ou data ao longo da história do país (o Estado Novo a partir de certa altura deixou cair o 28 de Maio).
    Outra questão é avaliar se, como em Inglaterra, os feriados são encostados à 6.ª f. ou à 2.ª f. para eliminar o efeito das “pontes” e garantir ao planeamento da produção um número constante de dias de trabalho.
    Ainda outra questão é no caso de uma reconhecida emergência nacional se suspender, com a garantia da medida ser provisória, algum ou todos os feriados.
    Todas as questões são pertinentes e podem e, devem ser discutidas e, decididas tempestivamente. Não é bom que a discussão misture tudo, de propósito ou por mera ignorância, porque fragiliza a decisão impedindo a sua sedimentação e abrindo caminho a incertezas sobre os nossos valores colectivos."

    ResponderEliminar