segunda-feira, 11 de abril de 2011

TIRO no PÉ? Isso é VOTAR em SÓCRATES!

Pela primeira vez, dediquei tempo a assistir, pela TV, a um congresso partidário, neste caso, o XVII Congresso do PS. Interessou-me sobretudo o que diria José de Sousa, e ouvi os seus dois discursos por inteiro. A situação de quase-bancarrota em que está Portugal justifica que todos demos muita atenção àqueles que exerceram e podem vir a exercer funções políticas no Estado e em quem votaremos em 05-Jun. Eu quero saber escolher, e escolher bem, e quero ajudar nos processos de decisão de outros portugueses.
Registei três coisas deste congresso: o guião seguido por todos os que têm responsabilidades e culpas directas na situação do país, guião este repetido ad nauseam e que não foi sensível a alguns apelos internos ao reconhecimento de erros do PS; a prudência, para não dizer medo, com que, fora do guião, os congressistas anónimos falavam para as TV; e a falta de inovação.
O PS esteve sozinho no Governo 13 dos últimos 16 anos: de 1995 a 2002; e desde 2005, isto é, nos últimos 6 anos. Em 2005, teve maioria absoluta de deputados com 2,5 milhões de votos em 10 milhões de portugueses; com 2 milhões de votos foi a maior minoria em 2009.
O PS e Sousa gabaram-se ad nauseam de terem “posto as contas públicas em ordem”, mas sabe-se agora que excluíram as empresas públicas de transportes, cujos défices são pagos integralmente pelo Estado. O défice em 2007, de acordo com as regras do Eurostat, e registado para a posteridade pelo INE, não foi os propagandeados 2,7% mas sim 3,1% do PIB.
A dívida pública duplicou nos 6 anos em que Sousa chefiou o Governo; o desemprego duplicou desde 2005; e o PIB estagnou. Sousa e os seus apoiantes disseram que o TGV não ia parar; Ana Paula Vitorino disse no domingo que tinha financiamento e que era importante; hoje, que parar era uma questão de bom-senso. Sousa encenou aquele ar de “virgem ofendida” em 04-Abr para recusar falar de ajuda externa; e assinou o pedido em 06-Abr-2011, para financiar de imediato as despesas do Estado. Um secretário de Estado reconheceu há um mês que os juros, que não param de subir há um ano, eram insustentáveis por muito mais tempo. “José Sócrates at last admitted what had long been obvious to everyone else”, disse The Economist, revelando (mais) uma mentira de José de Sousa.
Esta narrativa é factual, sublinha os factos mais relevantes e é fácil de perceber. O guião que os socialistas repetem como uma cassete ignora os factos que ocorreram até 23-Mar; construíram uma narrativa com factos inesquecíveis, para estas 3 últimas semanas, mas que dificilmente se sobrepõe aos factos dos últimos 16 anos: Sousa, o PS e o seu Governo fracassaram; e, pior do que isso, mentem, manipulam e enganam.
Reconhecer o fracasso afecta Sousa de dois modos: a penalização eleitoral; e a saída de muitos dos seus apoiantes da Administração Pública. A penalização eleitoral do PS é coisa séria, porque o seu financiamento pode ser muito afectado se perder muitos votos –já não há Macau! E há ainda a “desalavancagem”: Sousa manteve-se no poder à conta de uma rede de apoiantes que podem entrar em défice nas suas contas domésticas; aí está um poderoso incentivo para eles lutarem afincadamente pela manutenção de Sousa no poder! Já nem falo de se virem a saber os “inner workings” (podres?) da tal rede, que suspeito ser a causa de Sousa não substituir ministros –já que não será para “não mexer em equipa ganhadora”...
O guião não pode ser sensível aos apelos à humildade e ao reconhecimento de erros de outros dirigentes do PS sem culpas nem responsabilidades na quase-bancarrota; admitir erros à beira de eleições é dar munições aos adversários e é preciso muita classe para saber “dar a volta por cima”; como Sousa não é pessoa para negociar não pode ceder nada – para ele, a política é um jogo de soma-zero (o que ele ganha perdem os outros).
Ainda se falou num modelo, o Guterrismo, baseado no diálogo. Mas Sousa não seguiu nem deixa um modelo inspirador, é só uma rede de interesses e expedientes; não se aproveita nada.
Conhecemos bem esta estratégia: o Partido Comunista mantém-se nos 450 mil votantes e toda a gente sabe desde 1991 que o comunismo e o marxismo são inviáveis. Porém, tem conseguido aguentar um eleitorado com uma cassete, sem modelo inspirador, e que não cola à realidade. De facto, a repetição ad nauseam do guião pelo PS mostra que estão a tentar aguentar o seu eleitorado, que pode deixá-los face ao evidente fracasso governativo; e revela que a narrativa do guião não é óbvia, senão não era preciso repeti-la dezenas de vezes por dia.
Os congressistas anónimos aplaudiram Sousa, como se esperava deles; e aplaudirão o próximo, seja ele quem for, no próximo mês, se for preciso; o seu bem-estar vem de estar com o poder. Tocar a cassete foi fácil; falar espontaneamente e fora do guião foi um problema e viu-se.
Pior de tudo num congresso à beira de eleições, Sousa disse pouco do futuro: a meio, disse que o Governo vai liderar as negociações com o FEEF/FMI; e quase no fim disse que visava um aumento das exportações para 40% do PIB e consumir 1/3 de energias renováveis – quando?
É ao Governo que cabe governar; para não liderar as negociações, só se desertasse! O ministro das Finanças disse em 17-Mar que se o Governo for demitido ele não fica… em 08-Abr disse que o FEEF/FMI tinham de negociar com cada partido... Este ministro foi ridicularizado por outros socialistas destacados. Mas Sousa continua como se tudo estivesse bem no Governo – é uma falta de vergonha. Uma pessoa decente teria sido humilde, como lhe sugeriu um jornalista da Al-Jazeera que o entrevistou em Jan-2011, e decidia deixar a vida política como vai fazer o seu camarada Zapatero em Espanha. Mas Sousa está agarrado ao poder.
Sobre as supostas metas das exportações e das energias renováveis, constam de documentos do Governo; é a prática de repetir anúncios. Mas Sousa não diz qual é a sua posição negocial em relação ao FEEF/FMI –a base de negociação será o PEC4, mas o que importa saber é onde se quer chegar no final das negociações e até onde cada parte pensa ir. O PS passa o tempo a exigir que o PSD revele propostas, mas o PS ainda nada revelou – ou não tem para revelar.
Raras vezes se viu um Governo e um político (Sousa) fracassar tão claramente. Mas ainda mais do que 10% revela em estudos de opinião desejar que ele ganhe; e quiçá outro tanto teme que Sousa consiga melhorar a sua posição na campanha eleitoral. Muitos portugueses dizem querer mudança, mas para perder que percam os outros. Muitos acham que o PSD “dá tiros nos pés”, porque não consegue “vender a banha da cobra” como Sousa. Muitos portugueses acham que o importante é falar e vestir bem; e muitos admiram quem vive de expedientes e desprezam os realmente bons alunos. E que tal votarem, e fazê-lo em qualquer partido menos no PS?
O fracasso governativo não conta? Há assim tantos portugueses tão superficiais que basta uma campanha eleitoral para esquecerem 6 anos de Sousa e seu Governo, e que estes trouxeram Portugal à bancarrota? E mesmo que Sousa tivesse mérito, governava sozinho? Pode ignorar-se a incompetência ridicularizada no próprio PS do ministro das Finanças? Quem aceitaria voltar a ser ministro de Sousa, sabendo como ele é autoritário e que não negoceia? Quem pode confiar numa pessoa que é mentiroso com provas dadas?
Se as pessoas avaliam as alternativas a Sousa pelos padrões mediáticos e de superficialidade com que ele “hipnotizou” um milhão de portugueses (por definição, os simpatizantes fanáticos e os militantes do PS vão atrás dele) e com essa hipnose conduz oito milhões, há uma conclusão: os oito milhões hipnotizados são conservadores e avessos à mudança, não procuram uma vida melhor e não merecem a liberdade que têm. Lembram a Alemanha que elegeu Hitler em 1933.
Se os portugueses não aproveitarem para mudar em 05-Jun, dando uma boa lição ao PS, terão garantida a bancarrota e o bem-estar a piorar na próxima década.

1 comentário:

  1. Subcrevo na íntegra o escrito.
    Os portugueses têm um grau de literacia muito reduzido. E o voto desses portugueses vale tanto como de todos os outros mais esclarecidos. Ainda ontem lia na página do fb do Fernando Nobre (entretanto retirada) o seguinte comentário:'FN, traidor... junta-se ao PSD, o grande responsável pelo estado a que o País chegou'. E o voto deste português (que não deve saber que quem Governa é o Governo e não a oposição) vale tanto como o teu voto. E este português, tendo votado FN, não é seguramente um português do aparelho partidário (a estes percebo o voto no aparelho partidário pois é um voto na sua subsistência).
    Dia 5 de Junho veremos.

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