Os media portugueses não aprenderam com o
erro de “casting” que foi a promoção de um político bem-falante e que passa bem
nos media (José Sócrates), mas que, em pouco anos, levou Portugal à beira da
bancarrota. Por isso, estão a repetir o erro: há anos que andam a “canonizar”
António Costa e agora estão a apoiar a campanha dele para chegar ao poder no PS
e no Governo.
A campanha dos media a favor de Costa é
sofisticada e tem duas vertentes:
1 – Os media dão-lhe todo o espaço que ele
queira para se afirmar, de acordo com a agenda dele. No topo do apoio está a
participação na “Quadratura do Círculo”, com a oportunidade semanal de defender
as posições em que ele se sente forte; seguem-se as entrevistas simpáticas. Depois,
as peças noticiosas sobre Costa são factuais ou em tom positivo. Costa trata de
só se expor publicamente em situações simpáticas: comemorações, inaugurações,
discursos políticos.
2 – Os jornalistas e editores não lhe
colocam questões difíceis (como pedir-lhe que escolha só entre opções más) e omitem
ou desvalorizam tudo o que o possa manchar. Por exemplo, poucos associarão
Costa às longas greves do lixo ocorridas em Lisboa no fim de 2013: ele não aparecia,
os jornalistas não o procuravam e o assunto era tratado pelos media numa base
factual e com algum desfavor para os trabalhadores – até o director-geral de
Saúde veio recomendar aos lisboetas que não colocassem lixo na rua; sobre a
causa nada disse. Poucos jornalistas colocaram esta questão aos comentadores; e
poucos destes escolhiam opinar sobre o tema. Desafio os meus leitores a darem
exemplos de casos em que, em situação comparável, os media não tenham
perseguido e pressionado os políticos responsáveis para resolverem a situação
com brevidade; e em que a maioria dos comentadores tenha sido acrítica da
situação. Já durante as Festas de Lisboa de 2014, mais problemas com acumulação
de lixo nas ruas só conseguiram garantir que algum vereador desse a cara às
câmaras, acusando os serviços municipais de negligência – Costa, nem vê-lo. De
novo, desafio os meus leitores a darem exemplos de casos em que os media se
contentariam com isto e não perseguiriam o presidente da autarquia responsável
até ele fazer alguma coisa ou reconhecer a sua responsabilidade. E a respeito
dos ataques pessoais e de violência física entre os apoiantes de Seguro e de
Costa, e da contestação a Costa no PS, alguém consegue saber dos factos com
algum pormenor pelos media e sem recorrer às redes sociais? E quando
noticiaram, praticaram, como com outros políticos, a repetição em numerosos
noticiários e ao longo de dias (“martelar”)? E em que meio de comunicação já
algum dos meus leitores viu algum jornalista ou comentador a referir que Costa
é um “jotinha”? E quantos noticiam quantos mandatos concluiu Costa?
Assim têm os media construído um santo. Esta prenda dos media dá muito jeito a Costa, que se calhar nem ousaria desejá-la, quanto mais pedi-la.
Desafio os meus leitores a indicarem mais
exemplos do tratamento favorável, sobretudo por omissão do que é desfavorável,
que os media dão a Costa (como deram a Sócrates e não dão a mais ninguém).
Talvez com surpresa, os media estão a
descobrir que há contestação a Costa dentro do PS. Mas continuam a tentar limitar,
ou compensar, todos os elementos que prejudicam a imagem de Costa.
Assim, que político partidário em campanha podia
esperar que as TVs e os comentadores ignorassem um artigo demolidor de Vasco Pulido Valente (http://www.publico.pt/politica/noticia/o-vacuo-1659832)?
Ou o manifesto de militantes socialistas, que equipara Costa a Sócrates? Mas
deram grande destaque a um manifesto de outros quatro militantes, cuja defesa
da urgência serve Costa objectivamente.
Costa veio há dias dizer que há uma terceira
via (outra...) para o país, que não passa pelos aumentos de impostos nem pelas reduções de
despesa: o crescimento económico. Que político partidário em campanha podia
esperar que as TVs e os comentadores não “martelassem” o vazio desta afirmação,
ainda mais vinda de um ex-ministro de um Governo que não conseguiu maiores taxas
de crescimento do que as actuais? Ou que não “martelassem” a comparação com
semelhante posição de Seguro há pouco mais de um ano? E não custava nada; mas
só nas redes sociais foi denunciada a demagogia de tais posições (também por
mim: http://proa-ao-mar.blogspot.pt/2013/04/a-alternativa.html#comment-form).
Como Seguro, Costa também descobriu “a alternativa” à política do actual
Governo… O populismo e a demagogia de Seguro e de Costa (idênticos aos de
Sócrates) correspondem ao modelo que A. Downs propôs em 1957: políticos
que apenas buscam o poder para o saborearem, e não políticos para realizarem um projecto
político. Mas é destes que Portugal necessita e os portugueses anseiam.
Costa tem as qualidades que o tornam
atraente para os media: fala bem, é persuasivo, tem boa presença nas TVs,
parece maduro e experiente. Aos media não interessa a substância do que fez e
do que faz, nem das políticas que defende; bastam os anúncios e a imagem (construída
por alguém); e que estas passem. Os media acham que o estilo e a imagem de
Costa é melhor para ganhar eleições do que a de Seguro; só por isso o canonizam.
Costa e os seus apoiantes sabem disto e, racionalmente
tentam aproveitar a oportunidade que lhes caiu no regaço. Sugerem que os
adversários políticos temem Costa, justamente porque ele pode conseguir uma
maioria absoluta. Nisso têm razão.
Mas o sentido do medo é este: Costa é o
regresso aos défices e endividamento descontrolados (leia-se: despesismo) e à política de culpar os outros pelo que corre mal (leia-se:
irresponsabilidade) a que Sócrates nos habituou. E o despesismo e a
irresponsabilidade são praticados por alguns, beneficiam muito alguns, mas
acabam sempre por ter de ser pagos por todos. Para a larga maioria da população,
as relações benefícios/custos do despesismo e da irresponsabilidade são más;
mas é a maioria que leva os políticos despesistas e irresponsáveis ao poder,
com a absurda fé de que se falam bem governarão bem; isto é, se são bons na
tribuna, devem ser bons a decidir as questões colectivas – o que tem uma coisa
a ver com a outra?
Seria de esperar que o sofrimento causado
pelas políticas que nos afastaram da bancarrota tivesse feito a maioria
perceber que é de evitar repetir as políticas que nos levaram à beira da
bancarrota; porque aí chegados, para de lá sair, só com sofrimento. Mas cada
vez há mais sinais de políticos e eleitores (não só na faixa do PCP e do BE, dos quais não
se espera outra coisa) que pensam que já se pode voltar a aumentar as despesas
públicas; o sinal mais claro e frequente é a vontade de não querer pagar a
dívida (ainda por cima, quando antes defendiam mais despesas e investimento
públicos, e endividamento; e achavam que o endividamento das PPP e as rendas do
sector energético não eram problema – até tinham vantagens para estimular o
crescimento… e reduzir o endividamento externo…). O que sugere que não
perceberam a crise que sofreram e que, a fazer-se o que desejam, podemos todos
voltar a sofrer (talvez em menor grau) de novo e a curto prazo.
Por isso, é um desígnio nacional derrotar
Costa e Seguro. Para isso, é necessário fazer sentir ao povo que votar neles –
em graus diferentes, mas não muito diferentes – conduz à mudança, sim, mas a
mudança para o que de errado e mau se fazia até 2011. O controlo internacional
apertado impedirá que Portugal volte a chegar à beira da bancarrota; mas não
impedirá que haja desvios perigosos, na sequência dos quais ocorram pressões
externas para “voltar ao bom caminho”, através de políticas recessivas e
contra-cíclicas (leia-se: políticas duras e sofrimento). Estas oscilações, de
que só usufruem alguns, ainda que suportados por uma maioria absoluta nas
próximas eleições, acabarão por condenar todo o país a uma década ou mais de
estagnação, a acrescentar ao período perdido de 2001-2013.
É difícil convencer socialistas (que se
distribuem por todos os partidos, como Hayek explicou em 1944) que o futuro do
país está em perigo se o Estado fizer despesas acima dos impostos que os cidadãos
toleram pagar – socialismo é, por definição, intervenção e despesas do Estado –
e que os défices são sempre pagos, mais tarde ou mais cedo, pelos impostos. Mas
já era tempo de, pelo menos, a maioria dos socialistas (de todos os partidos) e
dos portugueses perceberem que enquanto houver défice e se não querem pagar
mais impostos, então terão de aceitar cortes nas despesas, e que é irresponsável
pretender que não. Provavelmente, só uma derrota de Costa e Seguro vai forçar o
PS a perceber que tem de mudar, mas no sentido da responsabilidade e do
controlo das despesas públicas, até porque há muito espaço para poder diferenciar-se
substantivamente do PSD e do CDS-PP.
E também era tempo de os portugueses fazerem
sentir aos políticos que a derrota eleitoral deve implicar o seu afastamento da
vida política, e a duração desse afastamento deve ser um múltiplo do
ciclo eleitoral proporcional aos fracassos que tiveram e aos custos que causaram
ao país. Com o fim das subvenções vitalícias ficámos obrigados a aguentar com
políticos fracassados no activo, porque não têm emprego, ou fonte de
rendimento, alternativos fora da política.
Mas temos de começar a regenerar a política
por algum lado, e começar por derrotar Costa e Seguro, e fazer-lhes sentir que
estão a mais, é um bom princípio para regenerar os partidos e o sistema
político, porque actua sobre as pessoas, o activo fundamental do sistema. Só
depende de o povo realmente querer mudar.
Na mouche!
ResponderEliminarMetes-te em tudo. Não no que sabes, mas sobretudo naquilo que te encomendam.
ResponderEliminarConvinha só não ignorar que, numa altura em que a dívida pública até estava próxima do limite fixado, foram instruções da União Europeia que incentivaram os governos a gastar (o tal despesismo do Estado tão caro aos socialistas), como forma de tentar conbater a crise (estávamos em 2008)...
ResponderEliminarHá anos que somos, de facto, governados pelo eixo. Tudo o resto são tretas...
Os santos nunca são conhecidos pelos apelidos, Não há santo Assis, nem São Loyola, apenas.
ResponderEliminarE em português de lei, mesmo que fossem conhecidos pelos apelidos e não pelo nome próprio eventualmente seguido pelo apelido, seria sempre São Costa e nunca Santo Costa. se o nome começa por consoante, o Santo passa a São. Veja-se, São João, São Marcos, São Lucas, São Mateus, São Pedro, São Paulo.